O Homem que Não Podia Beber Café

 



Havia em uma bela cidade, um homem chamado João, que gostava muito de beber café. E de tanto que bebia café, tanto que bebia café, foi constrangido por seus vizinhos e familiares a parar de bebe-lo.


João bebia café o tempo todo, e nas situações mais inusitadas que se possa imaginar, dentro do ônibus, de manhã, de tarde e de noite; depois do café da manhã, antes, durante e depois do almoço, depois do jantar e antes de dormir; esta era a vida e a rotina de João.


Quando não estava bebendo café, estava pensando em beber café, quando estava na rua bebia café, quando estava em casa bebia café, no quintal de casa bebia café, no chuveiro bebia café, em festas de aniversário, ao invés de refrigerante bebia café.



João tinha um vizinho chamado Mário, um homem grisalho que vivia de shortinho e camiseta, e tinha manias excêntricas, as vezes Mário e João passavam horas a fio discutindo sobre coisas francamente banais!


Na semana passada, por exemplo, eles passaram cerca de cinco horas discutindo sobre o bolo solado de João. Mário achava que João deveria ter comprado uma massa de bolo melhor, e passou cerca de uns quarenta minutos falando sobre isso. Já João dizia que sua mente estava enevoada pela falta de café, esses eram os tipos de assuntos que conversavam.


Para João, a vida não fazia muito sentido sem o café, depois que fora proibido de bebe-lo por seus parentes e amigos, a vida perdeu um pouco o seu sabor, agora João bebia-o às escondidas.



Sempre antes de pegar uma xícara de café, ele olhava para um lado e para o outro, para ver se ninguém estava olhando, para ver se ninguém estava por perto, como um sentinela atento, como se estivesse esperando um trem. 


João bebia café de forma realmente exagerada e seus familiares e amigos ficavam muito preocupados e aflitos com isso e repreendiam João muitas e muitas vezes por causa de seu comportamento compulsivo.


Havia uma vizinha de João, na casa ao lado, que tinha um vestido vermelho, um vestido do qual ela tinha muito ciúmes, era seu xodó, um dia a vizinha voltava do mercado e encontrou seu precioso vestido no chão, pois o vento o havia derrubado, mas por alguma razão ela pensou que havia sido João.



A vizinha apanhou o vestido em frente ao portão e começou a reclamar e reclamar e reclamar com João, que se perguntava: "ué, mas por que eu levo a culpa"? João não respondeu nada a vizinha por respeito a velha senhora, mas pensava consigo mesmo estarrecido: "ué, mas por que ela acha que fui eu, com tanta gente morando aqui na rua, por que tem que ser logo eu; aí aí aí, é cada uma, que eu vou te contar"!...


E João decidiu ficar longe das vistas da velha senhora, mas a verdade é que a vizinha com o vestido, ficava parecendo um grande saco de batatas vermelho, um grande garrafão de suco de groselha, no entanto a vizinha gostava muito desse vestido.


Na vizinhança de João, havia também uma senhora chamada Camila, cujos três filhos eram terríveis, muito levados e Camila, a vizinha com os três filhos terríveis, frequentemente cruzava o caminho de João enquanto ele tentava ser discreto em suas sessões secretas de café. Os filhos dela, como pequenos tornados, causavam confusão por toda parte, mas estranhamente achavam fascinante o jeito de João beber café.



Um dia, enquanto João estava escondido no quintal bebendo café, os três filhos de Camila o flagraram. Eles ficaram boquiabertos, olhando para João como se ele fosse um ser de outro planeta. Depois de um momento de silêncio, um dos filhos exclamou: "Olhem, é o Tio Café!" E a partir desse dia, João ganhou um apelido inusitado, e de certa forma carinhoso.


Aos poucos, João e os três filhos de Camila começaram a criar um laço peculiar. João passou a contar histórias engraçadas sobre suas aventuras com o café, enquanto os filhos de Camila mostravam a ele suas travessuras mirabolantes. Eles se tornaram amigos improváveis, e João descobriu que sua obsessão pelo café poderia se transformar em algo divertido e compartilhado.


Com o tempo, João aprendeu a encontrar um equilíbrio em sua relação com o café. Ele ainda desfrutava de suas xícaras, mas não mais de forma compulsiva. Seus vizinhos e familiares perceberam a mudança em sua atitude e aos poucos, começaram a aceitar sua paixão pelo café de maneira mais saudável.



E assim, a bela cidade ganhou uma nova história para contar, uma história sobre amizade improvável, aceitação e encontrar alegria nas pequenas coisas, até mesmo em um cafezinho ao lado de crianças levadas.

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